Voldemort, Lava Jato, Publicanos, Zelotes.
Nomes icônicos para operações de investigação deflagradas pelo Ministério Público ou pela Polícia Federal servem principalmente para identificar facilmente peças de autos e objetivos de apuração e ajudam até no acompanhamento dos leitores de jornais, mas a definição dos títulos chama a atenção pela elasticidade dos temas.
Nomes icônicos para operações de investigação deflagradas pelo Ministério Público ou pela Polícia Federal servem principalmente para identificar facilmente peças de autos e objetivos de apuração e ajudam até no acompanhamento dos leitores de jornais, mas a definição dos títulos chama a atenção pela elasticidade dos temas.
Somente em Londrina, duas operações em andamento pelo Grupo
de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) vão da cultura
popular a termo pouco usual – no caso, Voldemort e Publicanos.
Enquanto o primeiro busca inspiração na multimilionária saga
do bruxo Harry Potter, a segunda toma emprestada a definição de antigos cobradores
de impostos dos romanos.
Segundo o coordenador do Gaeco no Paraná, Leonir Batisti,
não há um núcleo ou pessoas específicas para escolher os nomes das operações.
Elas são escolhidas por meio de um "brainstorm"
(tempestade de ideias, em inglês) entre a própria equipe. "É uma escolha
momentânea, que expressa o que buscamos naquela investigação", afirma.
Esse nome surge quando, num determinado momento, é
necessário um rótulo unificador para se referir às ações e documentos
levantados na apuração.
"Quando a gente faz uma apreensão, são centenas de
computadores, documentos. Ao invés de nos referirmos ao proprietário daquilo tudo,
damos um rótulo", explica.
Inimigo de Harry Potter, Voldemort é um vilão tão temido que
seu nome não pode ser dito. Seu nome foi adotado para a operação que investiga
um esquema envolvendo o conserto de veículos oficiais do governo do Paraná que
seria, de acordo com o Gaeco, comandado por Luiz Abi Antoun, primo distante do
governador Beto Richa (PSDB) e que teria bastante influência nos meios
políticos.
Nas escutas telefônicas, seu nome quase nunca aparece – é
citado pelos outros como "chefão", "cara" ou
"amigo", por exemplo. "É uma figura que fica nas sombras",
explica Batisti.
Já a Publicanos investiga atuação ilícita de fiscais da
Receita Estadual – os cobradores de impostos – que exigiriam propina de
empresários para suprimir o pagamento de impostos estaduais.
Para a escolha dos nomes, normalmente a referência é feita
ao objeto da investigação ou a algo intrínseco a ela, mas também pode ter
apenas analogia ao caso.
Batisti lembra da operação Castelo de Cartas, que apurou
associação criminosa para fraudar licitação da construção do anexo ao prédio do
Tribunal de Contas (TC) do Paraná.
O nome é uma analogia a algo que se desfaz. "Como se
desfez o próprio contexto do TC, que é a credibilidade."
O chefe da Superintendência da Comunicação Social da Polícia
Federal no Paraná, Paulo Roberto Gomes da Silva, dá a mesma explicação sobre o
método para batizar as operações do órgão.
Às vezes, no momento da definição, a apuração está longe do
foco que acaba ampliado, como no caso da Lava Jato.
De acordo com ele, a operação de maior destaque nacional
neste momento apurava irregularidades envolvendo o doleiro Alberto Youssef em
um posto de combustíveis – daí o nome.
"Jamais achávamos que ia chegar na Petrobras",
afirma.
Deflagrada no fim de março, a operação Zelotes é uma alusão
ao adjetivo àquele que finge ter zelo. A investigação é focada em esquema de
sonegação fiscal por meio da atuação de fiscais que anulavam ou revertiam
multas, ou seja, sobre quem deveria zelar pelos cofres públicos, mas não o faz.
Em outros casos, os nomes são mais sofisticados. A operação
Satiagraha, que culminou na prisão de banqueiros, diretores de bancos e
investidores em 2008, vem do termo Satyagraha, que significa "firmeza da
verdade".
O termo foi cunhado por Mahatma Ghandi em sua luta pela
liberdade da Índia.