Agência Estado
Na primeira manifestação pública após o impeachment, o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva reclamou dos cortes na alimentação e nas
viagens em aviões da FAB, decididos pelo governo do presidente em
exercício, Michel Temer, em relação à presidente afastada Dilma
Rousseff.
Mas reconheceu falhas na gestão da sucessora e disse
esperar que ela volte ao cargo. "Não estou dizendo que Dilma não cometeu
erros, cometeu. Mas queremos que ela volte para corrigir os erros que
cometemos", disse.
No discurso, Lula fez poucas referências à sucessora.
"Temer deu um golpe não na Dilma, mas na decisão do Senado que o
colocou como interino. Temer não tinha o direito de fazer o que fez. Ele
cortou até o almoço da Dilma. Amanhã vamos comer marmitex", ironizou o
ex-presidente, em ato organizado por centrais sindicais no centro do
Rio.
Segundo Lula, as medidas adotadas contra Dilma, como a
restrição ao uso de aviões oficiais, "não vão impedir (a presidente
afastada) de sair pelo País para denunciar esse governo".
Mais
magro e com voz ainda mais rouca que o habitual, Lula avaliou que tem
uma "dívida com a sociedade brasileira", mas evitou se posicionar sobre
as eleições de 2018.
"Estão me acusando de tudo quanto é nome,
divulgando as bobagens que falo. É medo de eu voltar. Ainda é muito cedo
para pensar em 2018. Já estou com idade de me aposentar. Mas não pensem
que vão destruir aquilo que nós construímos", afirmou.
Lula
criticou a escolha do ministério do governo provisório, acusando a
suposta influência do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ).
Ele ironizou manifestantes pró-impeachment.
"Os
coxinhas agora estão com vergonha por que foram para a rua bater panela e
o resultado não foi um risoto, foi Temer. Os coxinhas sabem que o
ministério de Temer é o ministério do (Eduardo) Cunha. Mas sempre haverá
nesse País mais gente de cabeça erguida, decente, do que coxinhas."
Na única referência direta à Lava Jato, o ex-presidente indicou que a
operação "submeteu os petroleiros a condições humilhantes".
Lula
afirmou que ter sido o presidente que mais investiu na companhia e que a
descoberta do pré-sal foi "seu maior orgulho como presidente e como
cidadão".
O petista também afirmou que a "elite nunca aceitou a
Petrobras" e teceu diversas críticas às "elites", discurso comum em seu
governo.
"A elite brasileira, incompetente para governar este País,
achava que tudo iria se resolver se a gente vendesse as empresas. Eu
queria provar que o peão seria capaz de pensar politicamente o Estado
brasileiro melhor do que toda a elite", completou.
Lula defendeu
ações de seu governo junto ao BNDES e demais bancos públicos. O ato "Se é
público, é para todos" defendeu a mobilização da sociedade contra a
privatização de empresas e serviços públicos, além de criticar a agenda
econômica do governo Temer.
A manifestação ocorreu na Fundição
Progresso, na Lapa, região central do Rio, com público reduzido apesar
do acesso liberado. Não houve estimativa de quantas pessoas estiveram no
evento.