Vamos ao que está atrás do corte de cabeças. Começamos,
então, como de praxe. Uma pergunta.
O Estado Islâmico inventou a decapitação de reféns?
Não. É uma mensagem já antiga e eficiente, entre
organizações terroristas. O caso mais marcante é o do jornalista americano
Daniel Pearl, decapitado pela Al Qaeda no Paquistão (a história virou filme com
a atriz Angelina Jolie em 2007, “O Preço da Coragem”).
Por que o Estado Islâmico corta as cabeças?
O primeiro fator é psicológico. A conquista de Mosul pelo
Estado Islâmico no ano passado, antes da instituição de seu “califado”, ocorreu
afinal após a retirada do Exército iraquiano. Relatos dão conta do temor
propagado pela organização terrorista, entre soldados locais. Apresentar-se
como um grupo violento e sádico ajuda, nesse sentido, a garantir vitórias ao
Estado Islâmico.
Funciona também como propaganda?
Se pergunte quando foi a última vez que um carro-bomba virou
manchete. Eu estive no Iraque recentemente e, mesmo em Bagdá, as notícias de
atentados eram lidas com desinteresse. Leitores estão anestesiados, e esses
ataques já não têm impacto em uma estratégia de propaganda. As decapitações,
por outro lado, recebem uma atenção brutal: a cada refém ocidental morto pelo
Estado Islâmico, a organização terrorista ganha as manchetes no mundo inteiro.
Os muçulmanos são bárbaros!
Bem, a decapitação não é exatamente desconhecida no
Ocidente. Lembra da guilhotina? Ela era usada até 1977 para cortar cabeças na
França, como punição. Não vale a pena ceder a esses julgamentos velozes de que
“os árabes são menos desenvolvidos”, porque essa não é a questão estratégica
nessa história.
Mas há consenso entre terroristas para decapitar sua vítimas
né?
Não. Na verdade, o contrário. Hamas e Hizbullah, por
exemplo, não recorrem ao gesto (o que não quer dizer que não sejam violentos).
De acordo com um texto publicado pelo “Washington Post”, Ayman al-Zawahiri,
líder da Al Qaeda, pediu à franquia iraquiana da organização terrorista que
parasse de cortar cabeças. “Muçulmanos nunca vão achar que as imagens são aceitáveis”,
disse.
Então não há relação entre islã e decapitação?
Não foi isso o que eu disse. Há na verdade uma referência
histórica no Alcorão, o livro sagrado do islã. Um estudo de 2005 cita um trecho
que fala em atacar o pescoço de infiéis. Teologicamente, a mensagem teve força
ao longo dos séculos. Mas, é claro, isso não significa que o islã equivalha a
cortar cabeças. A imensa maioria dos seguidores dessa religião condena a
violência. O Estado Islâmico é um grão dentro da diversidade islâmica, e sua
visão é das mais radicais.
Quem está cortando as cabeças?
Não se sabe. Mas se imagina que em parte dos casos seja o
mesmo homem, apelidado “John jihadista”. Acredita-se que ele seja britânico.