Daiene Cardoso, Ricardo Della Coletta e Vera Rosa
Brasília - Pressionado pelo PT a renunciar ao mandato e
evitar danos à campanha da presidente Dilma Rousseff, o deputado federal
licenciado André Vargas (PR) pediu nesta sexta-feira, 25, sua desfiliação do
partido.
A justificativa do parlamentar, acusado de envolvimento com
o doleiro Alberto Youssef, é que o desligamento do PT permitirá que ele invista
em sua defesa no Conselho de Ética da Casa, onde responde a um processo por
quebra de decoro parlamentar.
A gota d'água para que Vargas tomasse a decisão de deixar o
PT, no entanto, foram os danos causados à campanha do candidato petista ao
governo de São Paulo, o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha.
Nesta sexta, o Estado revelou que um relatório da operação
Lava Jato, da PF, sugeriu que Padilha indicou o executivo Marcus Cezar Ferreira
de Moura ao Labogen, laboratório controlado por Youssef.
À época, a empresa tentava obter um contrato milionário com
a pasta, que não chegou a ser assinado.
"Não quero prejudicar Padilha, que é meu amigo",
afirmou Vargas em conversas reservadas.
Na terça-feira, 22, o presidente do PT, Rui Falcão, pediu a
Vargas que renunciasse ao mandato para não prejudicar as campanhas da
presidente Dilma Rousseff, de Padilha, e da senadora Gleisi Hoffmann ao governo
paranaense.
Falcão disse ao deputado que, se ele não renunciasse, seria
expulso pela Comissão de Ética do PT. Em resposta, aliados de Vargas chegaram a
afirmar que na sigla não existe "rito sumário".
No PT, as previsões davam como certa a expulsão do deputado
licenciado na Comissão de Ética.
Vargas encaminhou carta de desfiliação ao diretório
municipal de Londrina na manhã desta sexta.
Cabe ao partido encaminhar agora o pedido à Justiça
Eleitoral para que o desligamento seja concluído.
O deputado disse, em nota, acreditar "na isenção,
imparcialidade e tratamento isonômico da Câmara" na análise do processo
por quebra de decoro parlamentar.
"Sem partido, irei dedicar-me agora à minha defesa no
Conselho de Ética da Câmara, confiante de que me serão asseguradas as
prerrogativas do contraditório e da ampla defesa", argumentou ele no
documento.
Nesta semana, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) apresentou
um relatório pedindo a abertura de processo contra Vargas, mas uma manobra
regimental do deputado Zé Geraldo (PT-PA) jogou a decisão para o dia 29.
Na ocasião, Vargas reclamou do rito dado pelo colegiado a
seu caso e queixou-se de não ter garantido seu "efetivo direito de defesa
no processo".
A ligação do deputado com o Alberto Youssef veio a público
quando foi revelado que ele pegou carona em um jatinho do doleiro.
As denúncias fizeram com que o paramentar renunciasse ao
cargo de vice-presidente da Câmara.
A operação Lava Jato foi deflagrada em março e apura um
esquema de lavagem de dinheiro suspeito de movimento cerca de R$ 10 bilhões.
Em nota distribuída aos jornalistas, o deputado licenciado
diz que ao tomar a decisão de se desfiliar do PT poderá priorizar sua defesa no
Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.
"Sem partido, irei dedicar-me agora à minha defesa no
Conselho de Ética da Câmara, confiante de que me serão asseguradas as
prerrogativas do contraditório e da ampla defesa", diz a mensagem.
Na nota, o deputado ressalta que passou 24 anos no PT e
agradece a oportunidade de "servir" ao Paraná e ao Brasil.
"Confio na isenção, imparcialidade e tratamento
isonômico da Câmara em relação ao meu caso, reafirmando a minha crença na
Democracia e no Estado de Direito", finaliza.