DE SÃO PAULO
A primeira reação à visão dos fios acumulados no ralo do
chuveiro, no travesseiro, no banco do carro ou nas roupas é o medo de ficar
careca.
"A segunda é entrar na farmácia ou no supermercado e
comprar qualquer coisa que traga o apelo de interromper a queda de
cabelos", diz o médico Luciano Barsanti, presidente da Sociedade
Brasileira de Tricologia.
Para saber o que o consumidor pode esperar desses produtos,
a Folha testou o desempenho de oito xampus "antiqueda", promessa
repetida em destaque nas embalagens das principais marcas.
O teste foi feito no laboratório da Kosmoscience, empresa de
pesquisas na área de cosméticos.
Para avaliar o desempenho, foram contados os fios caídos de
mechas de cabelo tratadas com cada um dos produtos "antiqueda" e com
xampu comum. A contagem dos fios foi feita após uma simulação que equivale a um
mês de lavagens.
O pior efeito observado foi o do xampu Palmolive para homens:
o produto salvou só 33 fios de cabelo, uma redução de cerca de 13% na queda
observada após o uso do xampu comum.
Em primeiro lugar entre as oito marcas testadas, o Pantene
Pro-V evitou que 86 fios caíssem em um mês --redução de 33,5%.
"Todos os xampus avaliados apresentaram proteção
estatisticamente significativa contra a queda", segundo o estudo.
"Uma diferença de 5% já é considerada relevante", afirmou o químico
Adriano Pinheiro.
O problema é que a maioria dos consumidores não sabe que os
xampus da categoria "antiqueda", seja qual for a marca, só reduzem a
queda causada por quebra do fio (provocada por agressões externas, tração
etc.).
PROMESSAS
Para colocar um xampu desse tipo no mercado a empresa deve
apresentar à Anvisa testes que comprovem as promessas feitas pelo produto.
Esses xampus prometem controlar, prevenir e reduzir a queda. Mas a informação
de que tudo isso se refere apenas à queda causada por quebra fica escondida na
embalagem. Está lá, em todos os rótulos, mas passa despercebida pelo
consumidor: fica na parte de trás, em letras tão pequenas que às vezes são
ilegíveis, conforme análise do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor).
Tudo bem diminuir a quebra e ganhar cabelos mais brilhantes
(esses xampus têm ação hidratante, que deixa os fios mais flexíveis e menos
propensos a quebrar quando submetidos a agressões como escova, pente, calor
etc.).
Mas a queda é mais embaixo. Quando a pessoa está perdendo
cabelos a ponto de apresentar falhas e num ritmo que a faz pensar em calvície,
não é ação "antiqueda" por quebra que vai melhorar o seu problema.
"O importante não é o quanto cai, mas o quanto nasce.
Um produto só terá efeito se estimular o nascimento de fios", diz a
dermatologista Meire Gonzaga, do departamento de cosmiatria da Faculdade de
Medicina do ABC.
Mesmo assim, não há garantia. "Não existe produto
milagroso para a queda, seja medicamento, seja cosmético", afirma
Barsanti.
E, se a pessoa não espera milagres, pode ganhar algo com o
chamado "antiqueda"?
Uns fios a mais, segundo o teste. "O número a mais de
fios que ficam não é tanto assim", diz Parada.
Para alguns, qualquer fio a mais está valendo.
Mas é bom prestar atenção: "Quem fica experimentando um
monte de produtos e não procura a causa da queda pode estar adiando o
tratamento de problemas mais sérios, como psoríase ou dermatite química
(inflamação do couro cabeludo por agentes químicos)", diz Barsanti.