quinta-feira, 17 de março de 2011

Mulher moderna, colesterol equilibrado

As atribuições femininas no cotidiano são muitas, porém a atenção à saúde e em especial aos níveis de colesterol deve permanecer em foco
A vida das mulheres é marcada pela superação diária, em todos os aspectos. Exemplos de superação como esposa, mãe e profissional não faltam, na ‘luta’ para estar sempre à frente do seu tempo. Tanto que o sucesso delas, hoje cada vez mais modernas e em pé de igualdade com os homens, está claro. Porém, muitas vezes isso faz com que as “mulheres maravilha” releguem a atenção à saúde para o segundo plano, o que é uma ameaça em potencial.

A cardiologista Tânia Martinez* alerta para o perigo da falta de atenção das mulheres à saúde, especialmente para o risco de desenvolvimento de doenças cardíacas. “As mulheres enfrentam um turno triplo, como mães, executivas e donas de casa. Isso gera um estresse que, se não controlado, poderá desencadear doença arterial coronariana (DAC)”, comenta.

De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e da Sociedade Brasileira de Climatério (SOBRAC), as doenças cardiovasculares ocupam no Brasil o primeiro lugar entre as causas de mortalidade desde a década de 60, tanto para homens quanto para mulheres. E o colesterol elevado é um dos principais fatores responsáveis pelo seu desenvolvimento. Além disso, ainda de acordo com a SBC, 42% das mulheres brasileiras apresentam colesterol acima de 200 mg/dl (nível considerado normal), contra 38% dos homens.

Outros fatores complicadores, que somados ao colesterol elevado só potencializam o risco de aparecimento da DAC são o aumento do tabagismo e da ingestão de bebidas alcoólicas pelas mulheres, além do consumo exagerado de alimentos ricos em gorduras, do sobrepeso e da obesidade. “Com estas práticas a mulher passou a apresentar mais risco para desenvolver doença arterial coronariana em relação ao sexo masculino”, ressalta a cardiologista.

Mas as mulheres têm um aliado, o hormônio estrogênio. Sua ação protege as artérias coronárias (vasos que levam o sangue para o coração). Porém esta proteção não basta, porque o processo de aterosclerose - doença que leva à obstrução das artérias e é determinante dos principais fatores de risco cardiovascular - já pode ocorrer em mulheres a partir dos 20 anos de idade.

A especialista explica que não há mágica. A disciplina e a adoção de hábitos saudáveis são o caminho para se evitar doenças cardíacas. A atenção à alimentação (rica em frutas e verduras e pobre em gorduras), ao sono (dormir no mínimo seis horas por noite) e a prática regular de atividade física moderada (pelo menos 30 minutos de três a seis dias por semana) reduz o risco de infarto em mais de 50%, pois contribui para diminuir o LDL c (colesterol ruim), também aumentando o HDL c (colesterol bom).

Para as mulheres que já foram acometidas pelo colesterol, tratamentos não faltam. É fundamental que elas procurem o cardiologista para que seja indicado o tratamento mais adequado ao perfil da paciente. Dentre as opções existentes estão o Lípitor, estatina com o maior número de evidências científicas, que comprovam seus efeitos na redução significativa do risco de eventos cardiovasculares e na diminuição em 39% a 60% dos níveis do colesterol ruim (LDL c).

Sobre o colesterol

Descoberto pelo químico francês Michel Eugene Chevreul, em 1815, o colesterol é “mocinho” e “bandido” ao mesmo tempo. Isso porque ele é um tipo de gordura necessária na composição do organismo, porém com sua porção boa e nociva. Ele é produzido especialmente no fígado e é matéria-prima para a fabricação de ácidos biliares, hormônios e vitamina D.

Sua faceta “bandido” ou "mau colesterol" é o LDL c (low-density-lipoprotein = lipoproteína de baixa densidade, em inglês), porque em excesso o LDL c obstrui as artérias. Já o “mocinho” ou “bom colesterol” é o HDL c (high-density lipoprotein = lipoproteína de alta densidade, em inglês). É a HDL que remove o colesterol da corrente sanguínea e o transporta para o fígado, de onde é eliminado ou reaproveitado. Sendo assim, quanto maior o nível do HDL c, mais se evita a obstrução arterial.

* Professora Livre Docente Tânia Martinez é médica colaboradora do setor de lípides, docente de pós- graduação do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade Medicina da Universidade de São Paulo (InCor-HCFMUSP) e ex-presidente do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)