quinta-feira, 23 de outubro de 2014

MENSAGEM DO BISPO:

“O amor a Deus e o amor ao Próximo”
Dom Manoel João Francisco - Bispo da Diocese de Cornélio Procópio
A liturgia do próximo domingo, mais uma vez, vai nos falar da profunda unidade entre o amor a Deus e o amor ao próximo.
Ao ser interrogado pelos fariseus sobre o maior dos mandamentos Jesus une dois mandamentos já conhecidos e praticados pelos judeus. O primeiro encontra-se no livro do Deuteronômio e fala do amor a Deus (6,5). O segundo manda que amemos o próximo como a nós mesmos e encontra-se no livro do Levítico (19,18). A novidade de Jesus está na unificação destes dois mandamentos. Não é possível amar a Deus sem amar o próximo e não é possível amar o próximo sem amar a Deus. Se for para haver uma prioridade, o próximo tem a precedência, como muito bem explicita São João em sua primeira carta:”Quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê” (1Jo 4,20).
Apesar de toda esta clareza, ainda hoje, depois de dois mil anos, muitos cristãos têm dificuldade de unir os dois mandamentos.
Muitos lutam por justiça, engajam-se em pastorais sociais de defesa dos pobres, participam de campanhas e atividades em favor dos direitos e da dignidade das pessoas, empolgam-se com as propostas de que um outro mundo é possível, mas não são capazes de tirar um momento para estar com Deus em oração. Estes, com certeza, não perseveram, pois cristão que deixa de rezar como cristão, deixa de lutar como cristão, e, com freqüência, deixa simplesmente de lutar.
Outros enfatizam tanto o amor a Deus e as práticas devocionais de freqüência à missa, de participação em novenas e grupos de oração que a relação com o próximo aparece como algo secundário expresso em atos de caridade e práticas assistencialistas.
Jesus em sua reposta é categórico. Não podemos ficar só com o amor a Deus ou só com o amor ao próximo. A mesma intensidade com que amamos a Deus, precisamos dedicar ao próximo. Se alguém pretende buscar a Deus, desinteressando-se do próximo, com certeza, não vai encontrar o Deus da Bíblia, o Deus de Jesus Cristo.
Tudo isso se confirma na vida dos santos e santas. Não existe na história do cristianismo um santo ou uma santa despreocupado com o próximo. Todos foram pessoas profundamente empenhadas na defesa dos irmãos e das irmãs necessitadas. Os santos e santas são exemplos concretos daquilo que o grande pensador, Paul Ricoeur escreveu: Minha vida interior é a fonte de minhas relações exteriores. Contrariamente à sabedoria meditativa e contemplativa do fim do paganismo grego ou do oriente, a pregação cristã jamais opôs o ser ao fazer, o interior ao exterior, a teoria à práxis, a oração à vida, a fé às obras, Deus ao próximo. É sempre no momento em que a comunidade cristã se desfaz ou a fé decai, que ela abandona o mundo e suas responsabilidades, reconstruindo o mito da interioridade. Então, o Cristo não é mais reconhecido na pessoa do pobre, do exilado, do prisioneiro.