Um dos melhores prazeres simples da vida é comer fruta no
pé. Quem mora na área rural - ou tem a oportunidade de de vez em quando escapar
da rotina acelerada da cidade grande e ir para o meio do mato - sabe do que
estou falando. E não precisa muito não: um bom canivete ou uma faquinha afiada
já dá conta do recado. Bom, às vezes é preciso subir no pé, e aí não tem jeito,
joelhos e pernas fortes também são necessários para o sucesso da empreitada...
No caso da laranja, por exemplo, é meio engraçado. Quando a
laranja é da "cidade", conseguimos comer no máximo umas duas, mas no
pé a gente perde a conta do quanto dá para ir comendo, uma atrás da outra,
ainda mais se forem aquelas bem miudinhas. Mais doces e saborosas, as laranjas
saboreadas diretamente do pé parecem especiais e a graça é experimentar mais
uma para ver se supera o sabor da última. E as diferentes variedades de laranja
em um mesmo pomar é um espetáculo à parte que promove um verdadeiro festival de
sabores.
Jabuticaba, então, nem se fale..., uma mais docinha que a
outra e o segredo é comer algumas cascas para não prender o intestino, avisam
os mais antigos. Engolir o caroço também nem sempre é o mais recomendado para
os de digestão mais sensível. Mas o caldinho suculento..., esse está
definitivamente liberado para todos, felizmente. Não é à toa que essa frutinha
redonda e preta era a preferida da Narizinho, famosa personagem do Sítio do
Picapau Amarelo, do escritor Monteiro Lobato, que passou boa parte da sua vida
na área rural, principalmente na Fazenda Buquira, no Vale do Parnaíba, em
São Paulo, que pertenceu ao seu avô, o Visconde de Tremembé.
Poncã, mexerica, limão-rosa, gabiroba, goiaba... são
infinitas as possibilidades de néctares que a natureza nos dá, diretamente do pé.
Mas tem uma fruta que não dá em árvore, não é "pé de fruta", mas é
deliciosa e não poderia ficar de fora dessa prosa. Cultivada diretamente no
solo, a melancia encanta os olhos quando está madura e parece que se convida
para ser devorada.
Achar uma melancia no ponto, no meio da roça, é um outro
tipo de pequeno prazer impagável. E não se preocupe por ela estar fora da
geladeira. Quando é aberta, mantém um frescor característico e o melhor de tudo
é poder se lambuzar, sem se preocupar com etiqueta e as regras de boas maneiras
à mesa. Aqui o mais importante é ser feliz.
Ana Paula Nascimento é jornalista na FOLHA